LINGUAGEM DA MÚSICA
As Matrizes estéticas e culturais Indígenas, Africanas e Europeias são parte fundamental da cultura brasileira. Elas carregam referências e formas de expressão cultural, de usos e costumes, englobando a poética artística que representa especificamente uma etnia, um grupo, um povo e uma nação.
● Matrizes Indígenas
O legado cultural dos povos indígenas, têm singular relevância para a formação da identidade cultural do povo brasileiro. De acordo com o IBGE (Censo 2010), são 305 etnias indígenas, falantes de 274 idiomas, que mantêm viva a cultura dos povos originários no Brasil e, portanto, se somam às comunidades que atuam diariamente na salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro.
O conceito de objeto de Arte, para os povos indígenas, tradicionalmente, não existe. Tudo o que eles produzem, apesar de conter elevado valor estético, tem caráter utilitário. Nesta produção, utilizam tudo aquilo que é encontrado na natureza (madeira, fibras, sementes e frutos, cipós, folhas, resinas, couro, penas, ossos, dentes, garras, conchas, terra, pedras etc).
Essa abundância de matérias proporciona grande variedade de produtos como cerâmica, tintas, adereços, armas, barcos, vestes, instrumentos musicais etc. A maior expressividade pode ser observada nas peças que utilizam penas, - comumente chamada de arte plumária. Na decoração de objetos e pintura corporal, a geometrização é muito presente.
A produção musical, também é utilitária, apresentando composições que passam de geração em geração, e é baseada no canto e instrumentos de diferentes tipos:
Idiofones: instrumentos que vibram por percussão ou atrito (chocalho);
Aerofones: soam pela ação do ar soprado pela boca ou nariz (flautas e apitos);
Membranofones: instrumentos que soam pela vibração de uma membrana (tambores);
Zumbidores: o som é obtido ao se girar rapidamente, no ar, uma corda a uma pequena peça de madeira oval na ponta.
Legado Cultural Indígena: um Patrimônio Brasileiro. http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4616
Brinquedos e Brincadeiras Indígenas - Portal do Professor. http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=22766
Brincadeiras e jogos Indígenas: https://escolaeducacao.com.br/10-brincadeiras-indigenas/
Canções Indígenas: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/sons-indigenas.
Mandáu Kyuy, kyuy, kyuy
Mandáu Kyuy, kyuy, kyuy
Mandáu Kyuy, kyuy, kyuy
Índios brasileiros, instrumentos musicais |
Segundo informações coletadas com o Professor indígena Luã Apyká da Aldeia Piaçaguera, da cidade de Peruíbe-SP da etnia Tupi-Guarani Whandeva, os indígenas não usam muito o termo “música indígena”, eles usam o termo “cânticos indígenas” porque “música” é considerado muito genérico e para o indígena o cântico vem da alma e é uma forma de se conectar com seus ancestrais e com Nhanderu (Deus em Tupi-Guarani). Na Terra Indígena de Piaçaguera, eles têm a Casa Grande que frequentam todos os dias e é um espaço de aprendizagem, de contação de histórias sobre os antepassados, onde conversam com os mais velhos (anciãos) da aldeia e se conectam com sua cultura e ancestralidade. Nestes encontros, eles entoam cânticos que não necessariamente, precisam significar coisas ou palavras, em vários momentos são apenas sons emitidos pela boca, onde os mais velhos ficam na frente cantando enquanto os outros seguem acompanhando. São estes encontros e estes cânticos que fortalecem a comunidade, trazem coisas boas, afastam os espíritos malignos. São cânticos muito poderosos e ensinados por Nhanderu (Deus).
Existe também uma musicalidade muito forte entre mãe e filho, onde as canções de ninar criam os primeiros laços entre eles. A música de ninar é muito poderosa e funciona como uma permissão para a criança dormir e entrar em contato com sua ancestralidade. Nos dias atuais, os indígenas têm acesso às novas tecnologias e às culturas do mundo contemporâneo e com isto, alguns afastamentos estão ocorrendo. Por exemplo, muitos jovens não participam mais da Casa Grande porque comungam das convicções religiosas do mundo externo e que agora, estão dentro das aldeias. Mas a conexão ancestral é muito forte e eles acreditam que uma cultura passada de geração em geração por mais de 3 mil anos não irá acabar assim. As aldeias vivem um momento de revitalização e fortalecimento linguístico e cultural.
A música para os indígenas vem do coração e é algo espiritual, acreditam ser algo real e verdadeiro, não é apenas a contação de alguma circunstância, funciona mais como uma oração e um ato de resistência cultural. Ela fortalece o coletivo, principalmente para o povo Tupi-Guarani onde homens, mulheres e crianças firmam seus laços através das
canções. Existem músicas para rituais onde todos cantam juntos, existem cânticos de brincadeiras, de convivência na selva e as crianças brincam cantando. Existem músicas específicas em rituais de batizados e em momentos sagrados, como os que comemoram o Ano Novo que para eles é agora na primavera onde se inicia o período de colheita e plantio.
Cada instrumento é um espírito e não pode ser tocado de qualquer maneira ou por qualquer pessoa, existem os instrumentistas da aldeia que já nascem com esta habilidade.
A maraca (chocalho) é um espírito muito poderoso e representa Nhanderu segurando e protegendo o mundo e é tocado apenas pelos homens.
A taquara é instrumento feito de bambu que é usado batendo no chão e é tocado só pelas mulheres.
A flauta, o tambor, o chocalho, a taquara e o violão são instrumentos poderosos e feitos com materiais da natureza.
O Texto produzido pelo autor especialmente para o São Paulo Faz Escola.
Projeto Acalanto.
O Projeto Acalanto é um CD com canções entoadas por mulheres dos troncos linguísticos Tukano Oriental e Aruaque, localizadas na região do Alto Rio Negro, Noroeste do Estado do Amazonas. As canções que compõem esse trabalho traduzem a alma dessa mulher e trazem os alentos, as reivindicações, entre outros, contando um pouco da história
de suas vidas à beira dos rios.
Projeto Acalanto. http://www.funai.gov.br/index.php/indios-nobrasil/sons-indigenas/2721-projeto-acalanto.
Nomathemba - Ladysmith Black Mambazo. “Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=1OJ9X2E_6JA
Allundé, Alluyá / Murucututu – Mawaca – Adaptação de duas canções de acalanto da região central da África.
https://www.youtube.com/watch?v=Eu2draNrxYs
Cangoma Me Chamou – Mawaca – Adaptação de tema dos escravos brasileiros, imortalizada pela cantora Clementina de Jesus, que é citada na apresentação realizada no Sesc Pompéia em comemoração aos 10 anos do grupo.
https://www.youtube.com/watch?v=SRY7wwSjbl0
Canções xamãs da floresta amazônica: Pasha Dume Pae– A música invoca forças da floresta. Nesta apresentação estão presentes instrumentos indígenas e não indígenas.
https://www.youtube.com/watch?v=JvE1XdBYkkw
Esta é a letra da canção indígena “PashaDumePae”. Esta é uma excelente oportunidade para cantar e analisar a sonoridade das palavras.
Pasha dume pae pae ser biburu akã hay hay hayhaira haira haira ne ne ne ne
Xoru ruman pae pae ser biburu akã hay hay hay haira haira haira ne ne ne ne
Txai ruman pae pae ser biburu akã hay hay hay haira haira haira ne ne ne ne
Hawa ruman pae pae ser biburu akã hay hayhay haira haira haira ne ne ne ne
Ubu sape irakan sape raketa netu hay hay haira haira haira ne ne ne
Jãi xani nakenin hawa nakek noya hay hay haira haira haira ne ne ne ne
Nu xani nakenin hawa nakek noya hay hay hay haira haira haira nHawa iri xubuxubu nai sakama ieman sape raketa netu hay hay hairahaira haira ne ne ne ne Tawawa baku baku hawa uraeusku ura deusku rumanbã hay hay hay haira haira ne ne ne ne Autxiashu baku baku hawa ura deusku ura deusku ruman bha hay hay haira haira ne ne ne ne ne Au kaba baku baku hawa ura deusku ura deusku rumanhay hay hay haira haira ne ne ne ne
As danças mais conhecidas
Povos indígenas | Região |
Xukuru-kariri | Localizados em Palmeira dos Índios, no estado de Alagoas. |
Pankararú | Situados nos municípios de Tacaratu e Petrolândia que ficam no estado de Pernambuco. Também estão na cidade de Bom Jesus da Lapa, no estado da Bahia. |
Pankararé | Índios localizados em Nova Glória e Glória, ambos no estado da Bahia. |
Kariri-xocó | Centralizados no Porto Real do Colégio, no estado de Alagoas. |
Tuxá | Povo indígena situado no município de Ibotirama e de Rodelas, os dois estão no estado da Bahia. |
Geripancó | Índios da região do estado de Alagoas. |
Kiriri | Grupo que habita nos limites dos municípios de Ribeira do Pombal, Quijingue e Banzaê, na Bahia. |
Kantaruré | Índios que habitam no município de Glória, no estado da Bahia. |
Pataxó | Extremo sul do estado da Bahia e ao norte de Minas Gerais; |
Tumbalalá | Estado da Bahia, entre as terras dos municípios de Abaré e Curaçá. |
Tupinambá | Grupo indígena localizado na Bahia. |
Wassu Cocal | Distribuídos geograficamente no estado de Alagoas. |
Pataxó Hã-hã-hãe | Indígenas localizados na região fazenda Baiana e Terra indígena Caramuru-Paraguaçu, no sudeste do estado da Bahia. |
Danças folclóricas
https://www.youtube.com/watch?v=Jt8-X5TGXo0
https://www.youtube.com/watch?v=SzIatKm3Mb0
Museu de Arte Indígena - Disponível em: http://maimuseu.com.br/
A pintura corporal é uma expressão de grande importância para a maioria das tribos indígenas brasileiras. Essas populações pintam seus corpos como forma de exercer sua espiritualidade e senso de coletividade. Geralmente, as pinturas são feitas para serem usadas em momentos de celebrações e rituais, seja de luto, casamentos, caça, preparações para a guerra ou cura de doenças. Existem muitos povos indígenas e diversas maneiras de adornar o corpo com tintas, sendo esses pigmentos extraídos de elementos naturais. Para obtenção do vermelho geralmente é usada a semente de urucum, já o preto é feito através da maceração da polpa do jenipapo verde. Há ainda alguns povos que utilizam o calcário para produzir a cor branca.A aplicação desses pigmentos é feita utilizando vários instrumentos, como varetas, madeiras, pedaços de algodão, pincéis variados e, principalmente, as mãos. Uma das tribos que se destaca na pintura corporal pelo seu caráter delicado e minucioso, é o povo Kadiwéu, presente no Mato Grosso do Sul. Antigamente, essa arte era mais praticada, hoje em dia, infelizmente ela foi perdendo espaço e é aplicada em cerâmicas que são vendidas para turistas.A pintura corporal é um dos principais elementos desta arte, podendo assumir diversas técnicas e padrões. Feita maioritariamente pelas mulheres, ela não tem um fim utilitário, mas carrega muitas mensagens e simbologias. As tintas variam de tribo para tribo, sendo preparadas de diferentes formas a partir de recursos naturais distintos, principalmente plantas, árvores e frutos. As pinturas e as tonalidades também podem variar dentro de um mesmo grupo, devido a fatores como o gênero, a idade ou a função na comunidade. Alguns exemplos bastante conhecidos são a tinta preta feita a partir de jenipapo, a vermelha feita do urucum e a de tonalidade branca, que vem da tabatinga. As cores vivas e cheias de intensidade canalizam valores como a alegria, a força e a energia. Os padrões e desenhos incorporados são inúmeros, já que estão relacionados com os símbolos, as crenças e a história de cada povoação. Eles surgem em incontáveis combinações e arranjos, podendo também representar momentos e emoções em específico. Embora sejam habitualmente usadas em rituais e cerimônias, estas pinturas corporais por vezes surgem apenas como um elemento estético, pensado para embelezar os corpos. Esse é o caso, por exemplo, dos Karajás, que usam estas pinturas como um modo de enfeitar e decorar os seus corpos com imagens que vão inventando. Os Kadiwéu (ou cadiuéus), do Mato Grosso do Sul, ficaram conhecidos pelos seus desenhos detalhados que continham elementos como listras e espirais. Atualmente, essas pinturas estão presentes nos vasos de cerâmica que eles vendem.
Cestaria Baniwa.
CERÂMICA INDÍGENA
A cerâmica também é bastante comum em diversas etnias de origem indígena e normalmente é feita por mulheres. O barro não só é manipulado para criar objetos utilitários, como vasos e taças, mas também estátuas e recipientes para guardar cinzas dos mortos, entre outros.
Culturas e arte indígena na atualidade.
Usadas em rituais, cerimônias e celebrações, as máscaras indígenas têm uma alta carga simbólica. Habitualmente elas estão reservadas para alguns momentos especiais, como comemorações e rituais sagrados, pela sua forte ligação ao mundo do sobrenatural. Parte dos costumes e do folclore de cada população, seguem as tradições e representam entidades que estes indivíduos querem agradar ou acalmar. Máscara dos Ticunas (ou tucunas) que habitam a região da Amazônia Os Tucanos e os Aruaques utilizam estes objetos enquanto realizam danças sagradas. Também é assim com os Karajás, que as reservam para a Aruanã, uma dança que visa homenagear os seus heróis. As máscaras são feitas a partir de materiais como palha, cabaças ou cascas de árvore, e costumam ser decoradas com desenhos e penas de pássaros. Contudo, no caso dos Matis, do sudoeste da Amazônia, elas se destacam por serem fabricadas em cerâmica.
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